Um brinde às rugas de nossa testa
À cada vitória alcançada com esforço
Um brinde às perdas que nos fizeram crescer
Mataram nosso orgulho
E encheram nosso copo
Um brinde às amizades bem vestidas
No tempo ou na distância aí fora
Um brinde aos dorminhocos que veremos novamente
Boa companhia e memória
Um brinde ao passar de nossa juventude
E à morte da lascivia, mas não do encanto
Um brinde às lições ainda não aprendidas
E às tribulacoes às quais iremos ensinar
Abra sua boca e cante sua canção
A vida é curta assim como o dia é longo
Eu não posso te deixar, corpo
Mas eu posso te deixar uma canção
Este é o meu legado
Um brinde a você!
(Brooke Fraser)
Feliz Ano Novo a você, leitor do Guarda-Roupa
Você merece todo o nosso apreço!
Nos vemos em 2011, com muitos textos novos!
Um grande abraço!
Assim como na obra de C.S. Lewis "As Crônicas de Nárnia", onde o guarda-roupa é símbolo da entrada para outro mundo, esse blog é uma porta para um mundo de literatura alinhada à Palavra da Fé. Entre, e fique à vontade... Mandem textos para o e-mail: guardaroupadafe@gmail.com. Seu texto será analisado e postado!
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Um Fio de Esperança
Alta madrugada. Tento dormir, mas os tiros não deixam. Olho para o lado e vejo meus filhos deitados , apenas um pano fino separa seus magros corpinhos do chão. A solidão, o medo, a tristeza me sufocam e uma lágrima cai. Sabe, é difícil chorar, às vezes penso que estou me transformando numa pedra, porém é necessário ser dura, pois só assim consigo sobreviver.
Amanhã será o ano novo... Como queria que tudo fosse diferente, mas minha imaginação só consegue me levar até aqui. Roubaram-me a habilidade de sonhar. Hoje, olho e vejo o real, minha realidade é miséria, dor e solidão... Não resta mais nada, qual será o futuro dos meus filhos? Não posso oferecer nada, e isso é cruel, corrói; nada, nada, nada... Esta palavra fica latejando em minha cabeça e parece que cria um eco, naaaaaaaaaaadaaaaaaaaaa.
Eu estudei, tinha o sonho de ser escritora, mas fui arrancada deste sonho por uma tragédia; não importa... E, meus filhos, ah!!! Meus filhos, nem sei se o mais velho continuará estudando, afinal de contas, preciso de alguém que me ajude financeiramente, e só me restou ele. Sabe, esse menino sonha , fala que nunca deixará de sonhar e que tudo é possível ao que crê; ele acredita que as coisas irão melhorar, que uma oportunidade surgirá. Ele fala que isso é fé, e que aprendera que ela é poderosa. Quando digo algo sobre o pai dele, que fora embora, ele me diz que, agora, ele tem um Pai que não o abandonará jamais - Deus. Uma coisa eu sei, as circunstâncias que nós vivemos parecem não mais atingir meus filhos. O irmão mais velho leva todos à Igreja pela manhã e eles acreditam que tudo mudará. Eu acabo de me lembrar de uma frase que ouvi nos tempos de escola, “a verdade não é o real, ainda que gêmeos” (Lidia Jorge). Sabe, meus filhos estão crendo em uma verdade superior, digo superior, porque consegue transformar a tristeza que os rodeia. Meus filhos não olham para a realidade, acreditam nesta verdade superior, acreditam em mudanças. Acreditam que com Jesus, tudo será diferente, acreditam em algo melhor, acreditam... Uma coisa eu tenho que assumir, meus filhos estão sempre felizes, apesar de nossa medíocre realidade.
Os tiros cessam e eu estou a pensar: que diferença existe entre mim e meus filhos? Eles possuem paz e eu agonia, eles alegria e eu tristeza... Resolvo acordar meu filho mais velho e dizer a ele que quero o que ele e os irmãos possuem. E, que o Deus, a quem ele chama de Pai, me ajude.
Franciane Santana
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Surpresa no Natal
Eu avisei, eu avisei. Compra logo essa passagem! Ela não me ouviu, deixou pra última hora e pronto, as passagens acabaram. Agora só vai poder chegar no dia 26. Vai perder toda comemoração de natal com a família.
Achei a voz dela desanimada no telefone. Não deve ter mais nada pra fazer naquela cidade. Ela deve estar morrendo de tédio. Se eu pudesse ia pra lá, mas não tem como. Por um lado é bom, pra ela aprender a não ser tão desorganizada, mas no fundo, estou morrendo de pena!
Só de pensar que ela vai perder o culto e o musical de natal na igreja. Os amigos vão perguntar por ela. Tia Lícia já tinha ligado dizendo que vai fazer a rabanada que ela adora, disse que esse ano vai colocar mais leite condensado. Ainda bem que a mãe não mudou a receita do chester. Ano passado ela veio com uma história de chester recheado que comeu na casa de uma amiga, depois ficou dizendo que o da mãe era melhor, sei não... Por causa disso a mãe quase trocou a receita esse ano, pra fazer o tal chester recheado que ela gostou mais. A nossa árvore até que ficou bem bonita, ela ia gostar de ver. Bem, vai ver no dia 26.
Eu disse a ela pra ficar tranqüila, aproveitar o natal com os amigos. Que é assim mesmo, que os filhos crescem, um dia seguem sua vida e os pais estão preparados pra isso. Disse pra ela não se preocupar, que nós estamos bem, mas... No fundo estou com muita saudade da minha menininha. Fiquei o dia todo pensando nela criança, naquele ano que ela pediu uma boneca. Uma Emília, nunca vou esquecer. Lembro exatamente de cada detalhe daquela noite! Eu disse que não ia poder comprar, e ela ficou toda desanimadinha. Mesmo assim se conformou, não fez birra, menina de ouro! Eu coloquei a boneca dentro de uma caixa grande pra disfarçar. Quando ela descobriu o que era... Meu Pai! Nunca vou esquecer a carinha dela! Ele adorava a tal Emília, acho que essa boneca até foi uma influência pra ela ficar tão espevitadinha. Ah! Os filhos crescem, mas sempre vão ser as nossas crianças.
Até desanimei um pouco pro amigo-oculto. Esse ano eu ia fazer um bem diferente, o amigo-olhudo, é uma novidade. A gente vai brincando e trocando o presente com os outros, trocando é modo de dizer, vai tomando mesmo, ela ia adorar. Mas não posso ficar triste, afinal tenho minha esposa, os irmãos dela, que são meus filhos também. E natal é celebração do nascimento de Cristo. Mas esse natal não vai dar pra esquecer!
Quase que eu estrago tudo com papai agora no telefone. Tive que fazer muito esforço pra me segurar.
Tudo bem, reconheço que não sou a pessoa mais organizada do mundo. Mas imagine, se eu ia deixar pra comprar minha passagem na última hora e perder o natal com minha família, minha igreja! Nunca!
Até que eu estava animada pra ficar mais um tempo, tem tanta coisa pra eu fazer ainda nessa cidade, mas vai ficar pra uma próxima vez. Que saudade da minha caminha, dos meus amigos, da minha igreja, da comidinha da minha mãe! Minha mãe faz o melhor chester do mundo! Imagine, no ano passado eu comi um chester recheado com frutas na casa da Glorinha, nem chegava aos pés do que minha mãe faz. Dá pra acreditar que minha mãe ficou com ciúmes? Eu só comentei que a receita era diferente.
Duro vai ser engolir a rabanada da tia Lícia, como alguém consegue por tanto leite condensado numa rabanada? Não sei como aquilo não desmancha fritando. Mas eu finjo que adoro. Ela faz com tanto carinho! Será que eles arrumaram a árvore direito? Se eu não gostar eu desmancho e faço tudo de novo.
Vou falar com Papai, pra gente fazer um amigo-oculto que eu aprendi aqui, o amigo-olhudo. A gente troca os presentes com os outros durante a brincadeira, bem não é exatamente trocar... Papai não conhece, mas vai adorar é uma febre por aqui.
Às vezes acho que estou fazendo uma maldade com eles. Mas lembro uma vez que eu queria uma Barbie e o papai disse que não ia poder comprar, eu acreditei, né? Fiquei um pouco triste, mas estava conformada. Na noite de natal ele me deu um embrulho grande. Eu nem imaginava o que era, fui desembrulhando, era uma caixa dentro da outra e lá no final a minha Barbie. Nunca vou esquecer, lembro exatamente de cada detalhe daquela noite, era a Barbie Dentista. Acho que essa boneca até me influenciou a vir fazer odontologia aqui nessa cidade. Só quero ver a carinha deles quando eu chegar de surpresa...
Natal é uma data muito especial, mesmo. Pudera, é o nascimento de Cristo! E esse natal não vai dar pra esquecer...
Lenise Freitas
sábado, 18 de dezembro de 2010
Arlindo e seu "Caminho pra Vida"
Arlindo saiu de casa. Aos 20 anos de idade, largou sua família no sertão cearense para garantir uma vida melhor para seus filhos. Sua pouca instrução e sua criação no meio dos animais da fazenda de sua mãe não lhe ajudavam muito. Seu pai morrera quando ainda era criança e a memória era turva quando tentava lembrar do seu rosto. Sua mãe sempre dizia: "Seu pai foi um homem de bem, só lhe faltava achar um caminho na vida". Aquilo sempre lhe voltava à mente, enquanto trabalhava, enquanto queria estudar e não podia, porque precisava sustentar seus irmãos: "eu preciso achar o meu caminho na vida".
Antes de sair de casa, assistiu uma reportagem na televisão preto-e-branco da família. Falava do estado de São Paulo, um estado que oferecia grandes oportunidades, onde a economia estava caminhando bem, e tudo acontecia. Decidiu-se de pronto: "vou pra São Paulo". Não pensou se seria esta a melhor opção, não considerou as dificuldades que poderia encontrar. Simplesmente foi. Sua mãe, apesar do grande pesar da despedida, apoiou sua atitude. Não deixou, porém, que seu filho fosse sem levar a única Bíblia que eles tinham em casa. "Você vai precisar mais do que eu, filho. Aqui eu consigo outra com os amigos da Igreja". E lá se foi Arlindo, na longa viagem até o seu sonho: "achar o seu caminho na vida"
No meio da viagem, porém, ele se sentiu incomodado com o banco desconfortável, e procurou algo pra distrair a sua mente. A única coisa que tinha levado, além de algumas roupas, um ou dois sapatos já usados, uma vontade de vencer e um coração aberto, era a Bíblia. "Não tem outra coisa, vai essa aqui mesmo". Abriu a Bíblia e folheou algumas páginas. Nada parecia fazer muito sentido, até que ele achou uma parte lá que falava assim: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Aquela palavra "caminho" tinha um sentido pra ele. Ele parou pra pensar, continuou lendo, e conheceu aquele que tinha falado aquelas coisas há muitos anos atrás. Reconheceu o nome famoso, mas não sabia nada dele. E, aos poucos, Arlindo "achava o seu caminho na vida". Em direção à vida.
Hoje, alguns anos depois, Arlindo está casado, feliz, com dois filhos. Ele se sente feliz consigo mesmo e em paz com Deus. Conseguiu trazer sua mãe e seus irmãos. Ninguém conseguia explicar, mas aquele homem que não tinha estudo nenhum parecia fazer de tudo, e muito bem. Aos poucos, ficou conhecido na vizinhança como aquele que faz tudo com excelência. E isso lhe colocou em posição de destaque. Quando perguntado com quem tinha aprendido aquilo tudo, dava sempre a mesma resposta: "Aprendi quando achei o meu caminho na vida"
Felipe Aguiar
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
A História da Borboleta Pequenina
Era véspera de natal. Todos no jardim do bosque estavam muito animados, pois iriam assistir ao Auto de Natal. Todos menos uma pequenina borboleta escondida no roseiral.
O grilinho que era metido a conselheiro se aproximou:
- Cri cri! Bom dia Dona borboleta pequenina! A senhora não vai se aprontar para a festa? Está quase na hora...
-Não, Senhor Grilo. Obrigada, mas eu prefiro ficar aqui!
A joaninha parecia árvore de natal, pois era verde com bolinhas vermelhas. Nesse dia se sentia muito importante. Também foi falar com a borboleta:
- Olá Dona Borboleta! Como estou? Acho que estou parecendo uma árvore de natal, não acha? E a senhora? Não vai se aprontar?
- Não, não! Obrigada, mas eu preciso ficar em casa mesmo!
Afinal, por que a borboleta nunca saía de casa e não queria ir nem a festa de natal? Todos os anos era a mesma coisa, só a borboleta não ia à festa. O vaga-lume, que era sentinela e tudo observava, tinha ouvido do primo do primo do seu primo, que era sentinela do outro lado do bosque, esta história da borboleta.
-Dizem que ela ficou assim depois de sua metamorfose. Pois quando era lagarta sonhava em ser uma grande borboleta, com asas grandes, toda colorida. Mas quando saiu do casulo, coitadinha! Viu-se transformar em uma borboleta pequenina, feiticeira, toda cinzenta... A pobre então, passou a viver escondida no roseiral, com vergonha de sua feiúra!
Um coral de canarinhos do alto de uma árvore, animados e comovidos com o espírito natalino, resolveram cantar para a borboleta. Quem sabe com uma boa música ela não se animaria?
-Borboleta pequenina saia fora do rosal! Venha ver quanta alegria que hoje é noite de natal!
A borboleta então também cantando respondeu aos canarinhos:
-Eu sou uma borboleta pequenina e feiticeira. Ando no meio das flores procurando quem me queira.
Mas nada fez, não se moveu e continuou triste e só.Os canarinhos desistiram e voaram para a festa.
Mas aquela música parecia ter tocado a borboleta. O tempo foi passando, a noite caiu e ela foi pensando:
- Ah! E se eu ficar bem de longe escondida no meio da multidão? Talvez ninguém perceba! É isso! Vou ficar escondida! Deve ser lindo o teatro, com um cenário maravilhoso, um palácio com certeza, e um berço de ouro com muito luxo e riqueza. Grandiosos figurinos para os personagens que vão visitar o menino, reis príncipes, só gente importante como convém ao filho de Deus!
Chegando na praça ela se escondeu bem no alto para que pudesse ver tudo sem ser vista. Mas ao iniciar o auto! Que surpresa!
-Não pode ser Maria e José! Os pais de Jesus chegam em um jumentinho? E Jesus nasce em um estábulo cercado de ovelhas e bois? Quem são esses simples pastores? Como podem chegar perto do Menino Deus?
Era como se a borboleta saísse de seu casulo e nascesse de novo, pois descobrira que o filho de Deus nasceu humilde num lugar muito simples, sem cores, nem grandeza como ela própria se sentia. Ela compreendeu que o filho de Deus e o natal são para todos!
O auto chegava ao fim, e ela ouviu o narrador dizer:
- Bem aventurados os feios, os pobres, os doentes e abandonados. O Natal existe para trazer esperança aos aflitos, perdão aos pecadores, alegria aos tristes e consolo para os que sofrem.
A pequena borboleta saiu do esconderijo e nasceu para a vida.
- Olha, olha! Uma procissão de crianças, vestidas de anjos, e elas estão voando como eu! Quantas fitas, flores e cores! Eu quero cantar, dançar e anunciar que é natal. É natal! É natal!
Enquanto isso, a procissão das crianças seguia cantando:
Borboleta pequenina!
Venha para nos saudar!
Venha ver cantar o hino que hoje é noite de natal
Conto de Lenise Freitas escrito a partir da música folclórica Borboleta Pequenina criado especialmente para o Programa Zé Zuca e a Rádio Maluca, da Rádio Nacional Rio de Janeiro em Dezembro de 2004.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Natal Antecipado
Era uma vez uma pequena família que vivia em uma pequena cidade do estado americano de Illinois. Austin e Julie Locke eram um casal feliz. Ainda mais ficaram, depois da chegada de seu filho, Dax. Sua chegada foi aguardada com muita expectativa.
Porém, aos 13 meses de idade, uma batalha se colocou à frente do casal. Dax foi diagnosticado com um caso raro de Leucemia. No Hospital de St. Jude, onde a doença foi diagnosticada, os pais receberam apoio da equipe médica, e ambos receberam com alegria a notícia de que eram compatíveis para o transplante de medula. E ambos o fizeram.
Porém, o estado de Dax era muito crítico. O câncer era de um tipo raro, e os tratamentos eram incertos. Os médicos chegaram à conclusão de que Dax não sobreviveria até o Natal. A família ficou em estado de choque.
Mas, após o primeiro susto, o pai de Dax teve uma ideia. Ele iria fazer de tudo para que seu filho vivesse, pelo menos uma vez, a experiência de um Natal. Era ainda setembro quando decidiu decorar a sua casa com motivos natalinos. Os seus vizinhos não entenderam, e foram questionar Austin:
- O que você esta fazendo? O Natal ainda está muito longe, e sua casa já está toda decorada! Quando chegar o fim do ano, tudo vai perder a graça e o sentido...
Eles não sabiam o motivo pelo qual ele fazia tudo aquilo. Mas, ao contar para o primeiro vizinho a razão de tudo aquilo, o que estava passando com o Dax, e o seu objetivo de levar o filho à experiência do Natal que possivelmente seria a única em sua vida, a história mudou.
Aquele vizinho, prontamente, decorou também a sua casa para o Natal. E, uma a uma, a vizinhança toda se uniu em um Espírito Natalino (no melhor dos sentidos) para proporcionar a Dax e sua família um Natal Antecipado. Os vizinhos criaram um blog contando a história da família, e pouco a pouco começaram a chegar cartas e fotos de todo o mundo, famílias inteiras com as casas decoradas muito antes do tempo em homenagem ao Dax. A notícia chegou ao telejornal local, e então, de uma rua apenas, TODA a pequena cidade foi decorada antes do tempo para o Natal.
Ele teve um Natal inesquecível. As luzes de sua rua o encantavam, toda vez que saía de casa para ir ao hospital e voltava. Dax dava sinais de uma felicidade incontida, e um encanto verdadeiro que só uma criança consegue demonstrar no olhar. No dia 27 de outubro, família, amigos, e até desconhecidos vieram à sua casa, com presentes, velas, e todas as comidas típicas de natal. Ele estava fraco, mas tinha um sorriso no rosto. Era difícil de acreditar que um ser tão frágil e tão pequeno podia transbordar com tanta alegria por tal festa. Os médicos disseram que ele não iria aguentar até o Natal, mas para surpresa de todos, ele suportou os dois! Em dezembro, ele aguentava firme, e teve um Natal na época "correta"!
Esta é a história de uma família que fez de tudo para que seu filho pudesse ver o Natal. Para que ele pudesse suportar até o último verso de "Noite Feliz". E que conseguiu...
Aos dois anos, Dax perdeu a batalha contra o câncer. Mas sua família decidiu continuar o seu legado, e estão dispostos a fazer o Hospital de St. Jude funcionar um dia inteiro com recursos privados em homenagem ao Dax.
Os pais de Dax estão bem perto de alcançar o seu objetivo. Esta é uma história real.
Para ajudá-los e unir-se ao verdadeiro Espírito Natalino, você pode acessar o site:
http://www.daxlocke.com/
Assista também o clip da música criada por Matthew West em homenagem ao Dax:
Feliz Natal (Antecipado!!!)
Um Último Natal
É uma notícia que ninguém espera
É o maior medo de todo pai
Descobrir que o filho que você tanto ama
Talvez não sobreviva até o fim do ano
E agora o pensamento de passar o Natal
Sem ele parece errado
Eles oravam por um milagre
Agora há orações para que ele possa apenas continuar
Por um último Natal, uma última noire
Uma última estação em que o mundo está ajustado
Uma última estória contada
Um último verso de "Noite Feliz"
Eles dariam tudo para que ele tivesse
Um último Natal
Meio de setembro
Ainda 20ºC
O pai sobe até o sótão, desce com as velas
coloca as luzes em todas as árvores
Então os vizinhos começam a perguntar
E, num instante, a notícia se espalha
Primeiro foi a vizinhança
E em pouco tempo eles acenderam a cidade inteira
Vinte e sete de outubro
O seu tempo estava acabando
Família, amigos e até estranhos
Que eles não conheciam trouxeram presentes
Ele estava fraco, mas estava sorrindo
Como se nada estivesse errado
Disserem que ele não sobreviveria
Mas parece que ele vai ver o Natal, depois de tudo
Por um último Natal, uma última noite
Uma última estação em que o mundo está ajustado
Uma última estória contada
Um último verso de "Noite Feliz"
Eles dariam tudo para que ele tivesse
Um último Natal
Felipe Aguiar
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Vídeo Aprovados pelo Fogo
Este vídeo foi produzido pelo selo Guarda-Roupa da Fé, para a abertura da Conferência Jovem Aprovados Pelo Fogo, da Igreja Verbo da Vida do Rio de Janeiro.
Confira:
Felipe Aguiar
Confira:
Felipe Aguiar
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Eu não me dei conta...
Eu cumpria muito bem o meu papel de crentizeu benzecostal. Sou da 4a geração de pastores na minha família. Temos o orgulho de ter fundado a primeira Igreja benzecostal do estado. Todos os domingos vamos à Igreja para os cinco cultos. Somos pessoas de bem, muito cuidadosas com a nossa imagem e reputação.
Muito diferente daquele rapazinho que apareceu por esses dias. Vindo lá do interior da Bahia, de uma cidade que não sei nem o nome, ele começou a fazer barulho por lá, até chegar aqui na cidade. Pode realmente sair alguma coisa boa daquele fim-de-mundo? Tudo que ele falava dava problema. E nós crentizeus ficamos muito preocupados com suas atitudes. Perdemos até alguns membros da nossa igreja lá que decidiram vir com ele para a cidade. Claro, não deixamos barato, e excluímos todos eles. Onde já se viu? Sair por aí atrás de qualquer ventinho de doutrina...
Ainda mais de alguém que claramente não tem um bom comportamento. O cidadão foi pego em flagrante numa boate gay! Vê se pode! O indivíduo sabe que os crentizeus não se dão com os homossexuais! Ainda pediu guaraná pra alguém. Dizem até que ele ofereceu uma bebida pra aquela depravada, prometendo que ela não ia ter mais sede... Ha!
E o negócio ficou mais sério, quando um fiscal do INSS chegou pra ele cobrando o pagamento do imposto de renda. Além de tudo ainda é ladrão! Só que ele deu um jeito lá, e conseguiu o dinheiro na hora pra pagar. Meu Deus do céu, tem misericórdia, Pai! Não aguento com gente que vem pra desviar as pessoas.
Depois da imprensa local ficar sabendo do caso, fomos chamados a participar de um debate. O tema era: apedrejamento em caso de adultério. Quando cheguei na rádio, percebi que uma coisa ele tinha de bom. Ao menos era inteligente. As suas respostas intrigavam as pessoas, e os bobos de mente pequena ficavam maravilhados com suas idéias. Eu não fiquei, porque suas doutrinas não chegam nem aos pés dos livros que a minha família (meus avós e meu pai) escreveram sobre a religião. No final de tudo, ele ainda teve coragem de chamar os teólogos de "raça de víboras"! Isso eu não aguentei.
Chamei uns rapazes da Igreja pra dar uma dura nele. Além disso, entramos com um processo por formação de quadrilha. Era óbvio que ele queria atrair gente pra dar dinheiro pra ele. Claro que ele tinha que disfarçar, e até quebrou uma vendinha numa igreja por aí, dizendo que o templo não era pra ser um comércio! Quebrou os CDs, os DVDs, os livros... Depois é que descobrimos de onde vinha o dinheiro que ele usava. Era tudo legal, de pessoas das mais variadas.
Mas o processo foi à frente. Até a segunda instância, conseguimos avançar com a pena. Queríamos a pena máxima: pena de morte! No tribunal supremo, foi decidido que ele seria julgado por júri popular. E o povo decidiu: pena de morte! Sem saber o que fazer, o seu grupo de espalhou pelas cidades vizinhas. No jornal, havia uma pequena comoção entre alguns grupos da cidade. Alguns relatavam que foram curados, outros foram libertos de demônios... Mas aposto que ele expulsava os demônios por Belzebu. Não tinha outra explicação. E, claro, as curas eram inventadas... Não existe isso, ficar por aí curando as pessoas. Blasfêmia!
Na manhã seguinte, acordei alarmado. Era uma notícia no jornal que estava causando rebuliço em toda parte. Faziam três dias que não se falava em outra coisa! Meu Deus, está na hora desse indivíduo sumir do mapa! Sumir da nossa memória! Passou!
Mas a manchete no jornal me fez rever tudo que eu tinha aprendido até agora:
"Homem ressuscita após três dias entre os mortos."
"Cidadão de Nazaré, cidade do interior, arrebata o coração de multidões com curas miraculosas e um discurso convincente. Será ele o Enviado, ou apenas um falso profeta?"
Felipe Aguiar
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Segredos... Quem não tem?
"Você não precisa me dizer os meus defeitos. Eu olho no espelho todo dia e os vejo numa profundidade muito maior do que você." (Amy Grant)
Soraya era uma criança tímida. Desde seu nascimento, de um parto longo e complicado, ela carregava em seu corpo marcas e cicatrizes. Ela, por si mesmo, tentava escondê-las, e posso dizer-lhes que apenas algumas pessoas haviam visto. Seu corpo denunciava as marcas do seu passado. Ela sabia de suas limitações físicas. Mas vivia uma vida normal.
Na fase adulta, se deparou com os desafios e os dilemas do relacionamento. No início, tentava se desviar dos olhares, mas depois acabou cedendo e entrando no jogo. Ela era feliz, mas uma coisa a perturbava às vezes: e se alguém visse suas cicatrizes? E se o interesse acabasse? Era, de verdade, o amor capaz de ver beleza no que lembrava tanta dor?
E, por causa disto, Soraya colocou um cadeado no seu coração. Ele foi ficando morno, frio, gelado, inacessível. O que era apenas uma timidez virou uma obsessão pelo encobrimento. Seu rosto não era mais visto, seu corpo não era mais visto. Soraya passou a se esconder de tudo e de todos. O medo de ser vista passou a dominá-la, e tanta riqueza interior foi jogada fora em busca de esconder algo que ninguém notava.
Um plano foi criado. Uma meta de permanecer sozinha para sempre. Era um plano perfeito. Sucesso profissional, trabalhar sozinha, ninguém pra chatear. Enfim, era um plano à prova de tolos... Mas, o plano estava fadado ao fracasso.
Um grupo de pessoas decidiu se aproximar. Eram pessoas legais, super descoladas. Não bebiam, não fumavam, não usavam drogas. Na verdade, eles falavam de um amor cujo prazer e contentamento superava todos os sentimentos causados por estas coisas. Falaram de um amor diferente do que Soraya conhecia. Falaram de uma paz que ia além do que entendiam...
E Soraya foi se abrindo. Como uma flor que desabrocha.
- Soraya, quem se esconde debaixo de tantas roupas pretas e maquiagem?
- Ninguém! Eu sou eu mesma sempre.
- Soraya, pode se abir conosco, do que você tem medo?
- Não sei...
- Nós estamos interessados em quem você é de verdade. Você não vai nos mostrar quem você é?
E, pela primeira vez, Soraya não se escondeu das expectativas externas. E, pela primeira vez, viu a vergonha e o medo sendo expulsos pela aceitação, e pela simples constatação:
- Querida, você tem suas marcas, você tem seus segredos, você tem seus arrependimentos... Mas quem de nós não tem?
Inspirado na música Betty, de Brooke Fraser
Felipe Aguiar
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Doces Amargos
Marcelo com dez anos, era um menino triste. Possuía muitos problemas em sua casa com o pai alcoólatra e a mãe ausente, que precisava trabalhar o dia todo. Muitos irmãos, dos quais era responsável sem que ninguém se responsabilizasse por ele mesmo, contribuíam para uma infância perturbada.
Na escola, inúmeros problemas: aprendizagem, indisciplina, brigas constantes tornavam o quadro de sua miséria ainda mais caótico.
Porém mais um ano na escola havia iniciado e Marcelo estava diferente. Levado agora por uma vizinha a uma pequena igreja que abrira perto a sua casa mostrava-se confiante e orgulhoso de sua nova condição: um servo de Deus. Descobrira-se amado do Senhor e escolhido para servi-lo na sua casa. Dizia a todos que ia à igreja aprender de Jesus. Sabia até alguns versículos de memória.
Mas sua glória profunda era o uniforme que ganhara da esposa do pastor, podendo ser alçado agora à condição de um obreiro mirim. Uma calça preta de tecido oxford, a camisa branca com botões e uma gravata também preta pra combinar com a calça. No peito, como uma medalha ostentava o pequeno crachá de metal comprado no bazar evangélico: Obreiro.
Agora Marcelo ficava na porta recepcionando as pessoas que passavam. Servia água ao pastor, momento em que, oh meu Deus, subia na pequena plataforma da igreja. Também entregava um cartão para os visitantes pela primeira vez.
De fato na escola seu comportamento não mudara muito, problemas de indisciplina e brigas com colegas continuavam constantes, porém no lugar de palavrões, Marcelo insultava seus rivais com novas ameaças:
- Você vai para o inferno, seu pecador desgraçado! Mas eu não, por que eu vou à igreja, eu fui escolhido por Deus para servir na sua casa. Jesus morreu por mim, eu leio a Bíblia e sou obreiro mirim.
Finalmente o mês de setembro chegara e a tradição dos doces distribuídos no dia dedicado a São Cosme e São Damião. O pastor já avisara: tudo do demônio! Inclusive contara com detalhes como eram feitos esses “doces inocentes” e a rituais que eram submetidos antes de serem entregues na rua. Relatara inclusive, o caso de uma criança que pegar um daqueles doces e contraíra feridas na mão. Um outro caso mais grave ainda, da menina que comera o doce e havia contraído meningite. Não morrera por misericórdia de Jeová que salvara sua vida, porém a menina ficara surda e muda para que servisse como um sinal a essa geração perversa.
Marcelo ouvira tudo assustado, mas entendera o recado: devia passar longe de tais doces, e nem ao menos conversar com as crianças que os comiam.
Porém a tentação estava no caminho para escola. Era quase 1h e Macelo ainda não almoçara, pois a comida que tinha em casa era para o pai e os irmãos menores que não haviam conseguido vaga na creche. Na verdade, isto não era um problema para ele, pois a comida da escola era muito mais farta e de melhor qualidade, sempre tinha uma carne, coisa rara em sua casa. Mas a fome já dava seus sinais e os colegas com quem ele sempre brincara estavam animados com vários sacos de doces em sacolas de mercado.
-Marcelo, vem com a gente, a dona Jandira está dando doces!
Era a voz da tentação.
- Eu não, não quero ficar doente. Agora eu sou um servo de Deus!
-Largue de besteira, você sempre comeu doce e nunca pegou nenhuma doença, o pastor fala isso por que é rico e os filhos dele levam dinheiro todo dia pra comprar doce na cantina da escola particular.
O que se seguiu não é necessário narrar, Marcelo sucumbira à tentação.
Não ficou doente, mas a notícia correra e chegara até os ouvidos da esposa do pastor, que friamente mandara um outro obreiro ir a casa de Marcelo pegar o uniforme de obreiro mirim de volta. Nenhuma palavra a mais, nenhuma visita. A vizinha ainda insistira para que Marcelo continuasse indo à igreja, mas como convencê-lo a enfrentar a esposa do pastor e o olhar de reprovação de todos?
A vida voltara a ser como antes. Marcelo agora ficara mais agressivo ainda nas brigas, nos insultos. Os colegas não perdiam oportunidade de lhe jogar na cara a exclusão tão precoce.
-Cadê seu uniforme de obreiro mirim, Deus não tinha escolhido você pra servir na casa dele?
Marcelo então respondia:
-Eu que não quis aquele uniforme, era quente, pinicava meu pescoço. Igreja pequena, não tinha nem bateria, não tinha cura, não tinha nada. Eu vou servir a Deus por que foi ele quem me escolheu, não foi aquela mulher chata! Eu vou é pra uma igreja grande, com ar- condicionado, vou aparecer na televisão, aí vocês vão entrar na fila pra eu orar por vocês. Vou andar de avião, vou dar tchauzinho pra vocês lá do alto, eu vou comprar aquela igreja.
- Vai nada, seu comedor de doce, você vai pro inferno.
- Vou nada, eu já aceitei Jesus! Já aceitei! Eu sou crente agora, tá! E você é pecador! Anda, seu pecador, diz que eu sou crente agora, senão eu quebro a tua cara! -Gritava Marcelo entre socos e pontapés, aplicando uma gravata no rival.
Lenise Freitas
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Acaso??? Eu???
Era uma região montanhosa, cheia de ravinas, cachoeiras e riachos. Naquela estrada, cinza e sem fim quando se olhava ao horizonte, eu estava. A estrada caminhava por suas curvas, subidas e descidas. E eu, em meu banco, admirava a paisagem. Inspirado pelas maravilhosas paisagens, abismado com tamanha beleza e perfeição.
Quem teria imaginado a água correndo por entre as pedras? Quem teria construído montanhas com formas tão diferentes e variadas em relação ao espaço? Quem teria colocado aquelas pedras, uma em cima da outra, formando verdadeiras esculturas no solo? Eu estava inteiramente vendido à idéia de que aquilo não havia se originado em uma explosão. Eu nunca tinha parado para pensar profundamente no assunto, mas sempre me convenceram de que o big bang era uma coisa provada cientificamente, e que as provas estavam aí. Onde? Naquela montanha estava a maior prova de que o acaso não era responsável pelo planeta onde eu vivo!
Eu, inspirado pela água escorrendo da montanha, começo a questionar meus próprios pensamentos e minhas opiniões a respeito do universo, a respeito dos milhares de planetas rodeando a galáxia. Cada um com a sua cor, sua estrela, sua forma. Não poderia mais compartilhar da idéia de que uma explosão aleatória teria originado a vida como conhecemos hoje. Precisava haver algo mais! Não era, eu mesmo fruto de um acaso, fruto de uma junção aleatória de elementos químicos que se misturaram e formaram outros, originando tudo aquilo.
Eu comecei a olhar pra mim mesmo. Se tudo isso, inclusive eu, sou formado por uma sucessão de acasos, não passo de mais um deles. Me senti automaticamente repelido à idéia de que a minha vida começou por acaso, e terminaria por acaso em algum momento. Me senti vazio e sem esperança... Me senti um nada...
Então, comecei a me questionar: se existe alguém que vive acima do acaso, esse alguém deve querer se comunicar comigo de alguma forma. E, de uma maneira que não sei explicar, me coloquei disponível para ele. “Me ache! Se você está realmente interessado em mim, venha!” E de uma maneira sutil, Ele veio. Me disse que eu era importante, e que minha vida não era fruto do acaso. Que existia um propósito para minha vida, que ia muito além daquilo que eu via ou imaginava. Que minhas moléculas foram estrategicamente planejadas, e que até os fios de cabelo da minha cabeça passavam pelo conhecimento dEle.
Foi uma incrível descoberta. E eu recomendo. Se coloque disponível, e Ele encontrará você!
Felipe Aguiar
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Peripécias de um crente no cinema
Eu queria ir ao cinema. Estava de férias, e não tinha nada pra fazer em casa mesmo... Nesse dia todo mundo estava ocupado, e ninguém quis ir comigo... Mas eu queria tanto, tanto, que acabei indo sozinho.
Chegando lá, eu fiz as minhas compras de sempre. Suprimentos para o filme... Comida, claro! Daí, quando cheguei no cinema, as sessões estavam lotadas. Tinha um monte de adolescentezinhos esquisitos, com roupas pretas, cabelo no rosto... Cruz credo! Será que não tem nenhum crente aí pra falar de Jesus pra eles não? Ops... Crente?
As salas estavam tomadas por um filme que parecia ser meio de terror assim, mas tava todo mundo vendo esse. E os outros filmes eram de criança... Eu até gosto de desenho, até queria ver, mas e se alguém que eu conheço me visse num filme de criança? Eu NÃO SOU CRIANÇA! Eu sou adolescente, já tenho 16 anos, tá! Vou fazer vestibular ano que vem, tá?
Voltando ao filme, era uma coisa de vampiro... Tá amarrado! Eu, crente, vendo filme de vampiro? Tem misericórdia, pai! Um nome esquisito em inglês... Não sei, não entendi. Mas fui “no bolo”. Era minha única opção. Na fila, tava todo mundo falando de uma menina, que tava indecisa... Não sei do que eles tavam falando, mas devia ser alguma coisa do filme, né!
O filme começou. Percebi que eles estavam falando da menina do filme. Ela era bonita, devia ter a minha idade assim mais ou menos. E namorava com um cara esquisito. Ele sempre falava que ele não estava vivo... Ele falava que estava numa condição diferente da dela, e parecia não gostar nada disso. Mas ao mesmo tempo, ele não queria que ela se transformasse. Eu lembrei de uma vez que o pastor falou alguma coisa parecida. Parece que o homem nasce de um jeito e depois ele passa a ter uma condição diferente. É a chamada “queda do homem”. Será que todo homem vira vampiro? Ele sempre dizia que na verdade não estava vivo. E não queria que ela morresse pra ficar igual a ele. Será que isso tem a ver com o que aquela professora do Rhema falou uma vez de “morte espiritual”?
Sai, diabo! Me deixa ver o filme! Eu não vou ficar pensando na Igreja agora, né! Sai fora! Eu sou normal, não sou dessas pessoas que ficam o dia inteiro Jesus pra cá, Senhor pra lá, Deus pra acolá. Pai amado! De repente me aparece um cara sem camisa, falando que seria a melhor escolha pra ela. Aí eu entendi a parte dela estar indecisa. Ela não sabia com quem ela queria namorar. Namorar não, ficar. Quem namora hoje em dia? Hmmm deixa eu pensar... Os meus amigos da Igreja não ficam. Mas todo mundo no colégio tá cada dia com um. Deve ser normal, né. Eu nunca namorei, mas já fiquei com umas menininhas na escola. Não gostava delas, era só pra criar uma imagem positiva. Afinal, sou homem, né! Mas eu não fiquei muito feliz com isso não. Acabei afastando as meninas da Igreja, que me evitavam agora.
Ah! Não agüento mais! Será que estou virando fanático? Não consigo parar de pensar nesse povo da Igreja! O filme continua, e agora a tal menina tá se oferecendo pra o namorado. Eles tão sozinhos no quarto, o pai dela não tá em casa. Ela se oferece, ele nega. Ela se oferece, vai pra cima, e ele nega de novo. Fala que aquelas “coisas” só depois do casamento. Meu Deus, até em Hollywood tem crente? Sai fora, eu acho que esse cara é meio... Não sei não...
Ele começa a explicar a ela que tem princípios. E o meu pastor uma vez falou disso. Que a relação só é permitida depois do casamento. Que o casamento é uma aliança de sangue, e que qualquer coisa fora disso está contrário aos princípios da Bíblia. Será que o vampiro lê a Bíblia. Pensando bem, eu acho que esse cara não é maricas não, ele é crente! Ele resiste, disfarça, volta, e quando viu que não ia agüentar mais saiu fora.
Ele começa a explicar a ela que tem princípios. E o meu pastor uma vez falou disso. Que a relação só é permitida depois do casamento. Que o casamento é uma aliança de sangue, e que qualquer coisa fora disso está contrário aos princípios da Bíblia. Será que o vampiro lê a Bíblia. Pensando bem, eu acho que esse cara não é maricas não, ele é crente! Ele resiste, disfarça, volta, e quando viu que não ia agüentar mais saiu fora.
Fiquei meio sem saber o que pensar. Os meus colegas de turma me falaram que tem que dar em cima mesmo, tem que ir até o fim. Mas isso é totalmente diferente do que os meus pais falam e o pessoal da Igreja também. Eu ouvi a vida inteira sobre um tal de domínio próprio, paciência. Mas será que eu tenho que usar esses negócios na hora H também? Espero a pessoa certa pra fazer tudo direitinho, ou vou fazendo tudo erradinho com a pessoa errada enquanto isso?
Depois, eu percebi que ele fez a escolha certa. Lembrei do caso daquela menina que vivia aos pegas com o meu colega na escola, não se desgrudavam. E agora ela teve que sair da escola porque estava grávida. E o menino também saiu. Que pena, ele ia fazer vestibular pra direito. Tenho certeza que ele ia passar. Mas agora, tem que trabalhar pra pagar “o leitinho das crianças”. Será que isso foi bom pra ele?
Bem, estou saindo do cinema um pouco mais confuso do que entrei. Vou ter que fazer aquele negócio de “esperar no Senhor”. Não vai ser fácil, mas acho que vale a pena. É tão legal as pessoas se dando bem na vida, esperando o tempo certo pra fazer as coisas. E aqueles adolescentezinhos esquisitos não sabem o que querem da vida mesmo. Eu sei o que quero... Descobri isso agora.
Felipe Aguiar
Felipe Aguiar
terça-feira, 27 de julho de 2010
O que eu sei da vida? O que eu conheço do mundo?
Eu tenho um parente que há pouco fez oitenta anos e acabou de compartilhar comigo que ela está com medo de morrer. Eu me sento perto dela há anos para ouvir da sua experiência e tentar trazer-lhe conforto. Eu tento trazer conforto a ela, mas o que eu sei da vida? O que eu conheço do mundo?
Ela cresceu cantando sobre a glória, e poderia testemunhar como Jesus mudou sua vida. Durante sua vida inteira ela foi uma cristã fiel, e nunca se ouviu maldição nenhuma saindo de sua boca. Porém, era fácil ter fé quando ela tinha trinta e quatro anos, mas agora seus amigos estão morrendo, e morte está à sua porta. Mas o que eu sei da vida? Realmente, o que eu conheço do mundo?
Ela perdeu o seu marido depois de sessenta anos, e quando ele se foi ela ainda tinha coisas para dizer. Tinham coisas para viver juntos, tinham coisas para ver juntos. A morte pode ser tão inconveniente! Você tenta viver e amar, ela vem e interrompe. Mas o que eu sei da vida? O que eu conheço do mundo?
Eu não sei se há harpas no céu, ou o processo para ganhar suas asas lá, se é que ganharemos asas. Eu não sei se há um coral no céu, ou o que faremos por lá. Eu não conheço nada sobre luzes luminosas no final de túneis, ou quaisquer dessas coisas que ouvimos falar sobre a vida após a morte.
Mas uma coisa eu sei, e é isso que acredito acima de qualquer circunstância. Isso é o que me faz viver uma vida com propósito aqui nesta Terra, sabendo que este é só o início da minha vida eterna.
Eu sei que estar ausente deste corpo é estar presente com Deus. E pelo que eu conheço dele, isso deve ser muito bom.
Inspirado num falecimento na família e adaptado de uma canção de Sara Groves
Felipe Aguiar
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Meu Pastor é Bossa Nova
Bem vindos ao Rio de Janeiro!
Esta é a senha, meu Pastor vai cantar bossa nova. É bom avisar que a maioria das músicas são dele mesmo, além de cantar, ele compõe bossa nova. Ele mesmo é bossa nova, seu nome: Edimilson Nunes.
A Bossa Nova foi um movimento musical iniciado no finzinho da década de 50, que contrastava com o senso comum de que era preciso ter um vozeirão, uma postura dramática para cantar. Os dós de peito de Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Emilinha, Cauby Peixoto cediam a vez pra voz suave e doce de Nara Leão, Vinicius de Moraes, Tom Jobim.
Fazendo o caminho inverso, a bossa nova surgiu nas casas, em reuniões de amigos e ganhou as rádios, os meios de comunicação. De um jeitinho meio que conversando ao invés de cantar, de mansinho, devagarinho, Desafinado, com um Samba de uma nota só , a Garota de Ipanema, mandou dizer que Chega de saudade, Além do horizonte existe um lugar !
A bossa nova foi ganhando o mundo. Ganhou e permanece até hoje, seja na abertura das novelas de Manoel Carlos, nos aeroportos, no mundo inteiro referência de um país.
Meu Pastor também surgiu meio que assim, todo mansinho, falando baixinho , ele mesmo é pequenininho, da estatura de um TL Osborn, um RR Soares.
Não veio da turma de Campina Grande, fez um caminho inverso. Mas pouco a pouco foi mostrando seu valor e provando que sim, todo mundo pode brilhar desde que tenha a Motivação Certa. Não é preciso sobrenome, ter um vozeirão, estar nas rádios, na TV, basta um banquinho, um violão, uma choupana pra começar.
O povo gostou da idéia, entendeu a palavra e se juntou a ele. Agora é uma turma grande. Gente comum que decidiu acreditar que pode fazer diferença no mundo, que podem cantar, pregar, compor, viajar, escrever livro. Por falar em livro, Pedra de Guaratiba ( o bairro do meu Pastor) pode não ser nenhuma Ipanema, Copacabana, mas já mostrou que também fica bem na foto, dá pra capa de livro, linda, linda.
E assim meu Pastor vai ganhando o mundo, agora está indo pra Angola, vai cantar bossa nova por lá. Vai falar do amor de Deus e ensinar sobre a Unção Pastoral na primeira Escola de Ministros do Continente Africano. Eu achava que pra dar aula na Escola de Ministros, tinha que ter cursado a Escola de Ministros. Mas meu Pastor Bossa Nova é assim mesmo, ele quebra paradigmas, ele pode tudo naquele que o fortalece.
Ah, Edimilson, se todos fossem iguais a você!
A gente já está com saudade, mas Aurinha, sua esposa vai ficar cuidando da gente. Nós estamos mandando o Magno pra acompanhá-lo e se encarregar de trazê-lo de volta.
Daqui a pouco ele está de volta, sentado no meio do povo, fazendo visitas, ministrando, supervisionando as Igrejas Verbo da Vida do Rio de Janeiro que não param de aumentar, gravando seu cd (eu não contei? Ele está gravando um cd de bossa nova.), lendo Guarda-Roupa da Fé, e cantando nas nossas festas:
“Se tenho a Palavra, se tenho a Unção, se tenho Jesus dentro do meu coração,
Nada impossível me será, esperança em Deus não desaponta.
Se a pressão é pra parar a gente avança.”
Sempre com a voz mansinha que suas ovelhas conhecem e seguem, com aquele sorriso que quebra a gente no meio.
Deu vontade de conhecer? Venha pra Pedra de Guaratiba!
Bem- vindos ao Rio de Janeiro!
Lenise Freitas
sexta-feira, 9 de julho de 2010
“Estou em lua-de-mel comigo mesmo” – A história de João
João era um menino querido por todos. Mas não por si mesmo. Muitas coisas, durante toda a sua vida, lhe deram motivos para tanto amar sua vida quanto odiar. Apresentações fora de hora, decepções inesperadas e atitudes impensáveis deixaram João muito descontente. Ele não estava satisfeito com sua vida. Ele queria algo mais, ele queria preencher aquela lacuna que parecia que estava vazia...
Até que Abba chegou. Abba foi muito importante durante o processo de recuperação da auto-estima de João. Foi durante este processo de conhecimento que João passou a gostar do mundo à sua volta. O ambiente ficou agradável, a luz do sol parecia brilhar mais forte no seu dia. De alguma maneira, Abba pareceu a João como que a lente de contato ajustada no grau ideal para que ele enxergasse claramente o mundo ao seu redor. Foi uma experiência tão incrível que João não poderia nunca mais ser o mesmo.
A outra mudança, não menos importante, foi ocasionada pelo espelho. De alguma maneira, usar as lentes corretas fizeram João se enxergar de outro modo. Ele percebeu que, por mais que as associações que ele havia feito fossem importantes e duradouras, talvez, o casamento que ele nunca mais poderia se desfazer de verdade era o casamento dele consigo mesmo.
Virginia Woolf havia tentado se separar de sua “alma”, representativa de um sub-consciente formado pela sociedade e suas imposições. E ela se suicidou. A “alma” de Woolf era sua própria vida. Não havia separação. Dorian Gray (Oscar Wilde) tentou se separar de si mesmo, escondendo sua alma em uma pintura para que ela não sofresse o dano de suas atitudes inconsequentes. E, em busca de liberdade, achou a escravidão em seus pecados. Não era possível para João escapar de si mesmo. Mas era possível aceitar-se.
Não que João fosse perfeito, mas ele precisava admitir que não era, e trabalhar para que seus defeitos fossem ajustados. Afinal, “verdadeiramente é um erro estar cheio de faltas, mas é um erro ainda maior estar cheio delas e não desejar reconhecê-las” (Pascal). E começava mais uma descoberta dentro de João.
Ele descobriu que precisava resolver os conflitos inerentes à sua relação consigo mesmo. Ele precisava decidir amar aquele a quem ele deveria estar ligado pra sempre. E, pela primeira vez, João foi feliz. Não era uma alegria temporária e apaixonada. Era uma alegria diferente, “vibrante, mas cheia de paz” (L. Freitas). É claro que pessoas ajudaram a se sentir melhor consigo mesmo. Pessoas até foram enviadas com esse propósito. E fizeram ver o casamento lindo que João se tornara. Ele consigo mesmo, aceitando, surpreendendo, acreditando.
E, enfim, João está em lua-de-mel consigo mesmo. Em suas próprias palavras, nunca me senti tão livre! Nunca desfrutar de sua própria presença foi tão prazeroso. Nunca João percebera quanto valor ele tinha. E quanto brilho as lentes opacas e escuras da falta de aceitação haviam roubado de sua vida. Mas tudo era diferente agora.
Felipe Aguiar
quarta-feira, 30 de junho de 2010
"Você"
Você nasceu. Não do jeito como os outros nascem, num parto doloroso de uma mulher. Você nasceu do coração. Aliás, você já estava vivo. Você nasceu no coração dos seus pais. O processo não foi doloroso como o outro nascimento. Pelo contrário, foi cercado de amor e afeto.
Seus pais sempre foram objeto de admiração sua. E a cada dia, enquanto você amadurecia e crescia, mais admiração e respeito você tinha por seus pais. Eles eram sua fonte de carinho em todos os momentos. Desde os momentos agradáveis até os momentos mais tristes. Sua relação com eles crescia em tamanho e maturidade. O amor era alimentado diariamente, através de coisas simples como uma mensagem, uma hora dedicada de atenção a você, um presente... A vida parecia lhe ter presenteado com as melhores pessoas que se poderia pensar em ter como pais. Você sentiu coisas que nunca houvera sentido antes. Você fez coisas que nunca havia feito antes...
Você era suprido em todas as suas necessidades. Não digo as necessidades financeiras, porque, afinal, você não nasceu naturalmente, mas sim do coração. Este tipo de nascimento não leva em conta o mundo material à sua volta. Mas digo as necessidades emocionais. Todo ser humano tem necessidade de amar e ser amado. Isso é um fato que você sempre soube, mas nunca havia sido instigado a provar se essa verdade cabia em você ou não. Mas você foi. E provou que não era mais uma frase retórica de um livro de auto-ajuda. Era verdade pra você. Como você conseguiu viver tanto tempo sem essa relação entre vocês? Como você conseguiu passar tanto tempo sem esse glorioso nascimento?
Durante esse tempo você fez todo tipo de coisas com os seus pais. Vocês conversaram, vocês comeram, vocês sairam juntos, vocês estavam sempre juntos. Quando as pessoas queriam saber dos seus pais, vinham perguntar a você. E você achava isso o máximo. Você queria que isso acontecesse. Vocês estavam irrestritamente incluídos na rotina uns dos outros. Não havia como impedir que vocês pensassem a mesma coisa em muitos assuntos. Você recebeu uma grande carga de influência dos seus pais. Eles foram por todo esse tempo o seu modelo. Você viu neles a inspiração de que precisava para fazer as suas escolhas. Não que você fizesse as suas escolhas em todo o tempo. Muitas vezes eles fizeram escolhas por você. Muitas vezes você foi pego de surpresa por algo decidido por eles sobre você. Mas você adorava essas pequenas surpresas.
A comunicação era diária. E-mails, sms, telefonemas, bilhetes, recados... Tudo era usado para reiterar aquilo que, se não havia sido tido, seria dito a qualquer momento. Promessas foram feitas... Promessas foram cumpridas... Mais promessas foram feitas... E às vezes foram cumpridas... Promessas foram feitas...
O nível de envolvimento e afeição havia chegado ao seu ápice. Não porque chegou ao seu limite, mas porque daí pra frente não cresceu mais.A decisão havia sido tomada, e a relação estava pegando a próxima saída para outra estrada.
Você não havia sido informado sobre esse plano, ou essa nova rota. Mas, quando o seu pai ligou a seta, você imediatamente percebeu. Você acordou do seu sono e perguntou: Onde estamos? E nenhuma resposta chegou.
Na volta pra casa, vocês foram em carros separados. Você voltou pra casa com estranhos conhecidos, que podiam ser tudo menos os seus pais. Eles haviam ido... Por outro caminho... Na direção oposta. Você fez de tudo que pode pra chamá-los de volta, pra chamar sua atenção, pra dizer que você queria ir com eles... mas foi em vão. Eles não lhe ouviram.
Você ficou preocupado, quis saber onde eles estavam, quis chamá-los de volta. Quis gritar por socorro... Mas era tarde demais. A sua única alternativa foi voltar pra casa e se acostumar com a nova situação. Chegou a hora de focar nos seus estudos, chegou a hora de ganhar o mundo. Você pensou que finalmente vocês iam voltar a andar na mesma estrada. E até andaram por algum tempo. Você voltou a sentir tudo aquilo que sentia antes de eles pegarem o retorno. Você pensou que seria feliz novamente... Mas o ápice já tinha passado. E você estava prestes a se dar conta disso.
Você não disse, mas suas atitudes disseram tudo. Você ficou triste, e isso logo apareceu no seu rosto. Você não queria, mas uma conversa foi necessária. Por conta da sua timidez, palavras deixaram de ser ditas. Palavras foram lidas no seu rosto, mas não foram lidas nas suas palavras. A leitura nunca foi um ponto forte no seu pai, e embora sua mãe fosse muito mais proficiente na leitura, ela falava uma língua estrangeira. Você retomou o conhecido discurso do eu te amo, e seguiu em frente crendo que haveria uma mudança. E ela não veio. Você teve cada dia menos contato com seus pais. Eles estavam sempre ocupados, e você foi perdendo a vontade de tentar. Você tentou uma, duas, três vezes sem resposta e desistiu. Você ficou tão frustrado que não teve como evitar.
Por que todos conseguiam ver, mas ninguém conseguia decifrar a sua mente? Por que seu rosto insistia em se deixar levar pela força da gravidade e estava sempre triste? Aonde ia sua vida, e suas expectativas para o futuro? Onde estavam as promessas que foram feitas? Será que foram esquecidas?
Você aceitou as desculpas, mas já sabia que agora suas vidas estavam tomando direções opostas. Você passou a ver seus pais cada vez menos.Havia chegado a hora da independência? Havia chegado o momento em que você olha no retrovisor e não consegue mais ver o carro que estava ali do seu lado na direção oposta?
O momento passou. Você percebeu que não haveria mais jeito. Os seus pais já estavam longe demais. Não haveria como você pegar o próximo retorno para tentar buscá-los. Eles estavam andando numa velocidade maior do que a sua, e você não conseguiria alcançá-los. Eles tinham companhia. Eles não precisavam de você. E você chorou, como se isso tivesse lhe pego de surpresa. Não foi uma surpresa, você já sabia. Mas isso lhe deixou ainda mais triste.
Você precisava compartilhar isso com alguém. Você precisava experimentar de novo aquela velha frase se fazendo real em sua vida: Você precisava amar e ser amado. E você procurou quem você tinha antes de você nascer. E descobriu que eles haviam também nascido pra outras pessoas. Você não poderia exigir-lhes permanecer um feto para esperar você. Você nasceu e os deixou sozinhos. Não sozinhos, mas você se apegou aos seus pais de tal modo que esqueceu dos amigos. Então, era preciso criar novos. Era preciso dar à luz a alguém pra você. E isso aconteceu. Muitos não entenderam, outros não aceitaram, mas estava lá. Você podia contar com alguém novamente. Você podia ver o mundo de perto ao lado de outras pessoas. Não digo que você trocou seus pais pelos seus amigos, mas você preencheu seu tempo com quem queria lhe ajudar a preenchê-lo. Seus pais não responderam, porque não leram a sua carta cheia de perguntas.
Passou-se mais um ano, o Natal chegou e o Ano Novo trouxe com ele boas novidades. Seus pais não souberam, porque não leram o cartaz que você tinha colocado à sua porta. Não entenderam, porque não leram o seu bilhete. Não ajudaram, porque não quiseram. NÃO QUISERAM. Você chegou em casa e eles não estavam lá. Você procurou por eles e não os encontrou.
Quando você menos percebeu, seus pais morreram. MORRERAM. E você nem teve tempo pra se despedir. Você não teve tempo de se preparar. Você não teve tempo de responder as perguntas que você tinha feito para você mesmo. Como ia ser agora?
Você agora vive órfão. Não triste, mas órfão. Você vê a figura dos seus pais todas as noites. E várias vezes durante o dia você os vê na sua mente. Você é quase que assombrado pelo espectro deles. Você os reconhece de longe, mas eles não estão mais lá. Eles sentam agora no outro lado da fila. Eles têm outras ocupações. Você se pergunta: é pra sempre? Você às vezes chora, mas é consolado por aquele que te conhece desde antes de você nascer. É só Ele que consegue tirar o seu foco de tudo isso. É só ele que pode arrancar o sentimento de culpa do seu coração e lhe fazer ver que nem tudo depende de você. E, por mais que você se esforce em querer fazer as coisas voltarem, você não pode fazer tudo. Você não pode fazê-los nascer pra você de novo. Depende deles.
Não há como voltar atrás. Agora, é seguir em frente, esperando no Criador. Esperando que um nascimento possa acontecer, ou que você nasça novamente, em outra pessoa, em outro lugar, em outro país, você ainda não sabe.
Felipe Aguiar
Evangelho e Futebol (???)
Tenho ouvido críticas sobre o desempenho de Kaká na Copa, algumas pessoas dizem que ele é muito focado em sua religião e devia estar mais ligado no futebol.
Lembrei de uma historinha real que ouvi de um amigo de uma amiga, parece telefone sem fio mas ele garante que aconteceu de verdade... Vou tentar reproduzir aqui como ele contou...
Renato era muito bom de bola, vidrado em futebol, craque mesmo. Mas tinha entrado pra uma Igreja, dessas evangélicas bem animadas. Não se sabe ao certo que aconteceu, mas o cara deu uma mudada, sabe?
Sumiu das baladas, andou meio estranho, mas é certo que não estava doente. Parecia até estar melhor de saúde, deu uma corada. Só domingo era dia de treino do nosso time, sempre antes do almoço e justamente nessa hora tinha o tal culto nessa igreja. O time se reuniu e resolveu que como eu era o mais chegado, era a pessoa ideal para resolver a questão. Achei melhor investigar e tentar um acordo. Não sei mas parece que algo também me atraía para aquele lugar.
Pensei assim: eu vou na igreja dele, já que ele vive me convidando mesmo, e na hora certa arrasto ele pro treino.
Cheguei na Igreja e achei que era um lugar bem jeitoso. Um homem muito simpático me cumprimentou e me chamou de irmão. Pensei que devia ser um desses surfistas aposentados , mas veio um senhora e me chamou de irmão também e essa com certeza nunca subira numa prancha. No altar não havia imagens, nem Nossa senhora, nem Jesus, mas havia um telão ligado em um projetor que parecia de última geração. Muito bom pra transmitir um jogo, pensei. Será que era isso? Será que eles transmitem jogos ali e Renato ficou fissurado? Uma vez tinha passado ali em frente e ouvi uma gritaria, será que era torcida, eles assistiam jogos naquele telão?
Logo percebi que não. Uma garota muito linda pegou o microfone e começou a cantar. Acho que ela era famosa, pelo menos entre eles. Tocava com uma banda bem entrosada. Perguntei ao Renato onde vendia o cd dela, mas ele disse que ela não tinha cd gravado não, mas que ela estava aguardando a promessa de um senhor. Deve ser um caça-talentos desses de gravadora! Engraçado que, mesmo sem o cd, todos já sabiam as músicas, cantavam com as mãos levantadas, batiam palmas. Muito esperto esse senhor, a menina tinha mesmo talento.
Então o Pastor veio e passou a tal da sacolinha pra dar dinheiro. Eu estava distraído lembrando das músicas, e nem percebi umas explicações que ele dava, sei lá esse negócio de dar de coração, acho que tinha que ser mais organizado, fazer um carnezinho. Com um telão daquele e música ao vivo com a tal garota, devia cobrar uma entrada, uma mensalidade, sei lá. Mas a igreja era tão jeitosinha, devia estar dando certo. E sabe como é: time que está ganhando não se mexe.
Então veio um outro Pastor e abriu um livro. Eu já sabia que era uma Bíblia. Leu uma folha e começou a explicar, era quase hora do treino e justamente agora todo mundo tinha sentado. Fiquei pensando em como sair dali e ainda por cima levar o Renato, mas acabei me distraindo com as palavras que o pastor dizia. Que palavras bonitas, tinha algumas que eu nunca tinha ouvido, mas dava pra entender a maioria. Me senti muito bem naquele lugar, me deu uma paz, sabe? Tinha uma coisa assim meio no ar, não sei explicar.
Então a garota subiu no palco de novo, mas dessa vez ficou assim no canto e começou a cantar uma música bem lentinha, tipo fim de baile mesmo, ela cantava e o pastor falava junto, ele mandou todo mundo fechar os olhos. Eu fechei também. Ele mandou colocar a mão no coração, eu coloquei também. Aí ele falou que quem quisesse Jesus levanta-se a mão. Claro que eu levantei a mão, né? Quem não quer Jesus? Mas caramba, aconteceu uma coisa sinistra, aquilo era combinado entre eles por que ninguém mais levantou a mão! Eu, de olhos fechados, nem percebi a armação, até que ele falou no microfone:
-Jovem, você que está de mão levantada vem aqui na frente!
Abri os olhos e percebi que era comigo. Que vergonha! Todo mundo estava olhando pra mim, eu não sabia onde enfiar a cara, ele falava “vem” e eu morto de vergonha, “vem” e eu vermelho igual um pimentão, em volta de mim, parecia uma torcida todo mundo, “vai, vai, vai”. Eu fui, né? E foi mais esquisito ainda, não entendi nada, parecia que eu tinha feito um gol de final de campeonato no Maracanã. Todo mundo bateu palma, começou a gritar, me abraçar. Renatinho ajoelhou no chão e ficou com a mão pro alto parecia aquele pessoal do tetra que comemorava gol assim, tá lembrado?
Eles anotaram meu nome, pediram meu endereço, achei grosseria não dar. Me disseram os dias de reunião e eu aproveitei e pedi pra me avisar quando a garota tiver gravado o cd.
Apesar do mico, até que eu gostei da tal igreja. O pior foi dizer ao time pra desistir de Renato. Eu me embolei com umas coisas que o pastor disse, e falei que a gente podia crer que Deus mandava outra pessoa?! Mas aquele lá não volta mais não, duvido que ele deixe de ir a tal igreja pra treinar com a gente.
Eu nunca mais voltei, continuo no time. Mas ainda hoje me lembro daquele dia. Sei lá, às vezes me dá vontade de voltar, parece que um pedaço meu ficou lá. Quando penso naquele dia me dá uma paz, não sei explicar.
Acho que um dia eu volto, volto sim. Ou procuro uma Igreja mais próxima. Está escrito isso no papel que eles me deram, e eu guardei na minha carteira pra dar sorte.
Lenise Freitas
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