Arlindo saiu de casa. Aos 20 anos de idade, largou sua família no sertão cearense para garantir uma vida melhor para seus filhos. Sua pouca instrução e sua criação no meio dos animais da fazenda de sua mãe não lhe ajudavam muito. Seu pai morrera quando ainda era criança e a memória era turva quando tentava lembrar do seu rosto. Sua mãe sempre dizia: "Seu pai foi um homem de bem, só lhe faltava achar um caminho na vida". Aquilo sempre lhe voltava à mente, enquanto trabalhava, enquanto queria estudar e não podia, porque precisava sustentar seus irmãos: "eu preciso achar o meu caminho na vida".
Antes de sair de casa, assistiu uma reportagem na televisão preto-e-branco da família. Falava do estado de São Paulo, um estado que oferecia grandes oportunidades, onde a economia estava caminhando bem, e tudo acontecia. Decidiu-se de pronto: "vou pra São Paulo". Não pensou se seria esta a melhor opção, não considerou as dificuldades que poderia encontrar. Simplesmente foi. Sua mãe, apesar do grande pesar da despedida, apoiou sua atitude. Não deixou, porém, que seu filho fosse sem levar a única Bíblia que eles tinham em casa. "Você vai precisar mais do que eu, filho. Aqui eu consigo outra com os amigos da Igreja". E lá se foi Arlindo, na longa viagem até o seu sonho: "achar o seu caminho na vida"
No meio da viagem, porém, ele se sentiu incomodado com o banco desconfortável, e procurou algo pra distrair a sua mente. A única coisa que tinha levado, além de algumas roupas, um ou dois sapatos já usados, uma vontade de vencer e um coração aberto, era a Bíblia. "Não tem outra coisa, vai essa aqui mesmo". Abriu a Bíblia e folheou algumas páginas. Nada parecia fazer muito sentido, até que ele achou uma parte lá que falava assim: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Aquela palavra "caminho" tinha um sentido pra ele. Ele parou pra pensar, continuou lendo, e conheceu aquele que tinha falado aquelas coisas há muitos anos atrás. Reconheceu o nome famoso, mas não sabia nada dele. E, aos poucos, Arlindo "achava o seu caminho na vida". Em direção à vida.
Hoje, alguns anos depois, Arlindo está casado, feliz, com dois filhos. Ele se sente feliz consigo mesmo e em paz com Deus. Conseguiu trazer sua mãe e seus irmãos. Ninguém conseguia explicar, mas aquele homem que não tinha estudo nenhum parecia fazer de tudo, e muito bem. Aos poucos, ficou conhecido na vizinhança como aquele que faz tudo com excelência. E isso lhe colocou em posição de destaque. Quando perguntado com quem tinha aprendido aquilo tudo, dava sempre a mesma resposta: "Aprendi quando achei o meu caminho na vida"
Felipe Aguiar
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