quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Surpresa no Natal


            Eu avisei, eu avisei. Compra logo essa passagem! Ela não me ouviu, deixou pra última hora e pronto, as passagens acabaram. Agora só vai poder chegar no dia 26. Vai perder toda comemoração de natal com a família.
Achei a voz dela desanimada no telefone. Não deve ter mais nada pra fazer naquela cidade. Ela deve estar morrendo de tédio. Se  eu pudesse ia pra lá, mas não tem como.  Por um lado é bom, pra ela aprender a não ser tão desorganizada, mas no fundo, estou morrendo de pena!
Só de pensar que ela vai perder o culto e o musical de natal na igreja. Os amigos vão perguntar por ela. Tia Lícia já tinha  ligado dizendo que vai fazer a rabanada que ela adora, disse que esse ano vai colocar mais leite condensado. Ainda bem que a mãe não mudou a receita do chester. Ano passado ela veio com uma história de chester recheado que comeu na casa de uma amiga, depois ficou dizendo que o da mãe era melhor, sei não... Por causa disso a mãe quase trocou a receita esse ano, pra fazer o tal chester recheado que ela gostou mais. A nossa árvore até que ficou bem bonita, ela ia gostar de ver.  Bem, vai ver no dia 26.
Eu disse a ela pra ficar tranqüila, aproveitar o natal com os amigos. Que é assim mesmo, que os filhos crescem, um dia seguem sua vida e os pais estão preparados pra isso. Disse pra ela não se preocupar, que nós estamos bem, mas... No fundo estou com muita saudade da minha menininha. Fiquei  o dia todo pensando nela criança, naquele ano que ela pediu uma boneca. Uma Emília, nunca vou esquecer. Lembro exatamente de cada detalhe daquela noite! Eu disse que não ia poder comprar, e ela ficou toda  desanimadinha. Mesmo assim se conformou, não fez birra, menina de ouro!  Eu coloquei a boneca dentro de uma caixa grande pra disfarçar. Quando ela descobriu o que era... Meu Pai!  Nunca vou esquecer a carinha dela!  Ele adorava a tal Emília, acho que essa boneca até foi uma influência pra ela  ficar tão espevitadinha. Ah! Os filhos crescem, mas sempre vão ser as nossas crianças.
Até desanimei um pouco pro amigo-oculto. Esse ano eu ia fazer um bem diferente, o amigo-olhudo, é  uma novidade. A gente vai brincando e trocando o presente com os outros, trocando é modo de dizer, vai tomando mesmo, ela ia adorar. Mas não posso ficar triste, afinal tenho minha esposa, os irmãos dela, que são meus filhos também. E natal é celebração do nascimento de Cristo. Mas esse natal não vai dar pra esquecer!
 
Quase que eu estrago tudo com papai agora no telefone. Tive que fazer muito esforço pra me segurar.
Tudo bem, reconheço que não sou a pessoa mais organizada do mundo. Mas imagine, se eu ia deixar pra comprar minha passagem na última hora e perder o natal com minha família, minha igreja! Nunca!
Até que eu estava animada pra ficar mais um tempo, tem tanta coisa pra eu fazer ainda nessa cidade, mas vai ficar pra uma próxima vez. Que saudade da minha caminha, dos meus amigos, da minha igreja, da comidinha da minha mãe! Minha mãe faz o melhor chester do mundo! Imagine, no ano passado eu comi um chester recheado com frutas na casa da Glorinha, nem chegava aos pés do que minha mãe faz. Dá pra acreditar que minha mãe ficou com ciúmes? Eu só comentei que a receita era diferente.
Duro vai ser engolir a rabanada da tia Lícia, como alguém consegue por tanto leite condensado numa rabanada? Não sei como aquilo não desmancha fritando. Mas eu finjo que adoro. Ela faz com tanto carinho! Será que eles arrumaram a árvore direito? Se eu não gostar eu desmancho e faço tudo de novo.
Vou falar com Papai, pra gente fazer um amigo-oculto que eu aprendi aqui, o amigo-olhudo. A gente troca os presentes com os outros durante a brincadeira, bem não é exatamente trocar... Papai não conhece, mas vai adorar é uma febre por aqui.
Às vezes acho que estou fazendo uma maldade com eles. Mas lembro uma vez que eu queria uma Barbie e o papai disse que não ia poder comprar, eu acreditei, né? Fiquei um pouco triste, mas estava conformada. Na noite de natal ele me deu um embrulho grande. Eu nem imaginava o que era, fui desembrulhando, era uma caixa dentro da outra e lá no final a minha Barbie. Nunca vou esquecer, lembro exatamente de cada detalhe daquela noite, era a Barbie Dentista. Acho que essa boneca até me influenciou a vir fazer odontologia aqui nessa cidade. Só quero ver a carinha deles quando eu chegar de surpresa...
Natal é uma data muito especial, mesmo. Pudera, é o nascimento de Cristo!  E esse natal não vai dar pra esquecer...
           
            Lenise Freitas

Um comentário:

  1. nossaaaaaaaaaa!!! tudo é uma questão que termina ou inicia-se na forma de olhar; tudo faz diferença; a história modifica-se, mas a essencia, neste caso, é soberana. amei!!!bjs fran

    ResponderExcluir