segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Soldado e Eu


Estava eu e um grupo de mais ou menos 20 pessoas, há mais de 60 dias presos num prédio numa região altamente devastada pela guerra. Estávamos há tanto tempo confinados a um quarto escuro e sujo que nem sabíamos mais o que era a liberdade. Todos os dias os bandidos chegavam e nos deixavam aterrorizados. Nos tratavam mal, faziam ameaças. Nos diziam que nunca sairíamos dali, e que um dia, quando o chefe autorizasse, eles iriam matar a todos do jeito mais doloroso possível.

Era difícil para nós esquecer aquela cena que criávamos em nossa mente. Cena de homens arrombando a porta e nos torturando, mostrando toda a crueldade que um ser humano poderia ter. Então, quando os homens invadiram o prédio aquele dia, ficamos aterrorizados. O medo tomou conta de todos, e rapidamente nos juntamos em um canto da sala cheia de fumaça, fechando os olhos o mais forte que conseguíamos, na esperança de não ver a morte chegando.

De repente, eles gritaram: "Nós também somos brasileiros! Venham! Viemos salvar vocês!" É claro que não acreditamos. Os bandidos já tinham feito isso antes. Continuamos no nosso canto de olhos fechados. Mas, no meio daquela confusão, abri os meus olhos por alguns instantes. Pude ver os homens que estavam do lado de fora da sala, esperando que saíssemos, sem saber o que fazer. Até que um deles tirou a sua arma do braço, tirou sua roupa de soldado sua proteção e entrou pelo pequeno buraco que tinha sido feito para ser a nossa saída...


Ele se achegou aos poucos para onde estávamos, e como eu estava no canto, pude ver tudo claramente. Com os olhos fechados, ninguém percebeu que ele tinha vindo de fora. Ele sentou do lado da primeira pessoa, pegou na sua mão e lhe disse: "Eles são brasileiros mesmo, vieram nos salvar! Vamos, vamos! Precisamos sair daqui!" Aquela pessoa abriu os olhos com medo, e percebeu a verdade nos olhos dele, já que ele 'também era um deles'. Um por um, os prisioneiros sacudiam os braços um do outro, fazendo com que abrissem os olhos, e falavam a mesma coisa: "Eles também são brasileiros, e estão aqui para nos salvar!" A mensagem se espalhou, por causa daquele que, como nós, viu a salvação e avisou aos outros.

O soldado foi o primeiro a levantar-se, depois uma outra pessoa ficou em pé, e depois outra, e mais outra, até que todos nós levantamos. Todos queriam sair dali, e estávamos dispostos, agora, a deixar o lugar, seguindo as instruções dos soldados. A história termina com o grupo inteiro de reféns num helicóptero soldado brasileiro, sendo levados de volta a um lugar seguro, onde segurança, água e comida esperavam por nós.

Eu não gostava muito da história que os cristãos contavam, dizendo que tínhamos que seguir Jesus. Mas agora eu entendia o que os cristãos diziam com "Se esvaziou de sua glória e se fez um de nós, pra nos mostrar o caminho para a liberdade". Eu havia vivido isso. Agora eu vou contar aos outros reféns que chegou a ajuda...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Eu te ajudo, papai! Eu te ajudo, papai!


             Eu estava na sala de casa. Meu filho Samuel, de 2 anos, estava no seu quarto, enquanto eu consertava meu aparelho eletrônico. Até que Samuel vem e, olhando curioso para o que eu estava fazendo, diz:
- Papai, o que é isso?
- É coisa de adulto, filho. Estou consertando meu módulo eletrônico. Ele é muito importante para o trabalho do papai. Eu uso todos os dias, e hoje ele não está funcionando. Isso está atrapalhando o papai.
A essa altura, o equipamento estava ocupando grande parte do chão da sala, e os parafusos espalhados pelos cantos. Samuel, então, olha pra mim com aquele olhar que só ele tem e diz:
- Eu te ajudo, papai! Eu te ajudo, papai!
Ele saiu andando para o quarto. Pensei que ficaria ali, e não me atrapalharia com o conserto. Isso seria de grande ajuda, realmente. Mas eu fui surpreendido...
Samuel voltava do quarto, com todas as ferramentas de plástico que ganhou no Natal. Ele vinha andando, atrapalhado com todas aquelas chaves de fenda, chaves Philips, parafusos de plástico, se esforçando pra segurar tudo, e dizendo:
- Eu te ajudo, papai! Eu te ajudo, papai!
Você precisava ver. Eu precisava dar alguma coisa pra ele fazer. Não podia decepcioná-lo, tirando ele dali e levando para o quarto. Então, eu disse:
- Filho, ajuda o papai a pegar todos os parafusos...
Ele, rapidamente, começou a catar cada um dos parafusos que estavam no chão, enquanto eu continuava o trabalho. Depois de um tempo, ele conseguiu pegar todos os parafusos que estavam no chão, inclusive um que tinha caído no sofá do outro lado da sala. E vinha ele, andando com os parafusos nas mãos, e dizendo:
- Eu te ajudo, papai!
Ele estava tão empolgado que não viu a própria chave de plástico no caminho. E ele tropeçou, derrubando todos os parafusos no chão. Ao ver aquilo, não fiquei bravo, nem triste porque ele derrubou tudo. Ao invés disso, levantei o Samuel, o coloquei em pé, e comecei a catar novamente os parafusos.
Eu estava ali, concentrado em não perder nenhum dos parafusos, porque eles seriam importantes na montagem do módulo depois. E, enquanto eu fazia isso, Samuel subia no módulo que ainda estava desmontado, e com a melhor cara de felicidade, pulava em cima do equipamento e cantava:
- Eu te ajudo, papai! Eu te ajudo, papai!
Naquele momento, eu ouvi uma voz doce falando comigo:
- Sabe, filho, o que eu amo em você não é sua capacidade de me ajudar. Até porque, quando você tenta, você acaba estragando tudo. O que eu amo em você, filho, é a sua disposição em fazê-lo. Agora, deixe a tarefa comigo, e vá brincar no seu quarto...

Inspirado numa estória contada por Jason Upton

Felipe Aguiar