sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Peripécias de um crente no cinema

Eu queria ir ao cinema. Estava de férias, e não tinha nada pra fazer em casa mesmo... Nesse dia todo mundo estava ocupado, e ninguém quis ir comigo... Mas eu queria tanto, tanto, que acabei indo sozinho.

Chegando lá, eu fiz as minhas compras de sempre. Suprimentos para o filme... Comida, claro! Daí, quando cheguei no cinema, as sessões estavam lotadas. Tinha um monte de adolescentezinhos esquisitos, com roupas pretas, cabelo no rosto... Cruz credo! Será que não tem nenhum crente aí pra falar de Jesus pra eles não? Ops... Crente?
As salas estavam tomadas por um filme que parecia ser meio de terror assim, mas tava todo mundo vendo esse. E os outros filmes eram de criança... Eu até gosto de desenho, até queria ver, mas e se alguém que eu conheço me visse num filme de criança? Eu NÃO SOU CRIANÇA! Eu sou adolescente, já tenho 16 anos, tá! Vou fazer vestibular ano que vem, tá?
 
Voltando ao filme, era uma coisa de vampiro... Tá amarrado! Eu, crente, vendo filme de vampiro? Tem misericórdia, pai! Um nome esquisito em inglês... Não sei, não entendi. Mas fui “no bolo”. Era minha única opção. Na fila, tava todo mundo falando de uma menina, que tava indecisa... Não sei do que eles tavam falando, mas devia ser alguma coisa do filme, né!
 
O filme começou. Percebi que eles estavam falando da menina do filme. Ela era bonita, devia ter a minha idade assim mais ou menos. E namorava com um cara esquisito. Ele sempre falava que ele não estava vivo... Ele falava que estava numa condição diferente da dela, e parecia não gostar nada disso. Mas ao mesmo tempo, ele não queria que ela se transformasse. Eu lembrei de uma vez que o pastor falou alguma coisa parecida. Parece que o homem nasce de um jeito e depois ele passa a ter uma condição diferente. É a chamada “queda do homem”. Será que todo homem vira vampiro? Ele sempre dizia que na verdade não estava vivo. E não queria que ela morresse pra ficar igual a ele. Será que isso tem a ver com o que aquela professora do Rhema falou uma vez de “morte espiritual”?
 
Sai, diabo! Me deixa ver o filme! Eu não vou ficar pensando na Igreja agora, né! Sai fora! Eu sou normal, não sou dessas pessoas que ficam o dia inteiro Jesus pra cá, Senhor pra lá, Deus pra acolá. Pai amado! De repente me aparece um cara sem camisa, falando que seria a melhor escolha pra ela. Aí eu entendi a parte dela estar indecisa. Ela não sabia com quem ela queria namorar. Namorar não, ficar. Quem namora hoje em dia? Hmmm deixa eu pensar... Os meus amigos da Igreja não ficam. Mas todo mundo no colégio tá cada dia com um. Deve ser normal, né. Eu nunca namorei, mas já fiquei com umas menininhas na escola. Não gostava delas, era só pra criar uma imagem positiva. Afinal, sou homem, né! Mas eu não fiquei muito feliz com isso não. Acabei afastando as meninas da Igreja, que me evitavam agora.
 
Ah! Não agüento mais! Será que estou virando fanático? Não consigo parar de pensar nesse povo da Igreja! O filme continua, e agora a tal menina tá se oferecendo pra o namorado. Eles tão sozinhos no quarto, o pai dela não tá em casa. Ela se oferece, ele nega. Ela se oferece, vai pra cima, e ele nega de novo. Fala que aquelas “coisas” só depois do casamento. Meu Deus, até em Hollywood tem crente? Sai fora, eu acho que esse cara é meio... Não sei não...
Ele começa a explicar a ela que tem princípios. E o meu pastor uma vez falou disso. Que a relação só é permitida depois do casamento. Que o casamento é uma aliança de sangue, e que qualquer coisa fora disso está contrário aos princípios da Bíblia. Será que o vampiro lê a Bíblia. Pensando bem, eu acho que esse cara não é maricas não, ele é crente! Ele resiste, disfarça, volta, e quando viu que não ia agüentar mais saiu fora.
 
Fiquei meio sem saber o que pensar. Os meus colegas de turma me falaram que tem que dar em cima mesmo, tem que ir até o fim. Mas isso é totalmente diferente do que os meus pais falam e o pessoal da Igreja também. Eu ouvi a vida inteira sobre um tal de domínio próprio, paciência. Mas será que eu tenho que usar esses negócios na hora H também? Espero a pessoa certa pra fazer tudo direitinho, ou vou fazendo tudo erradinho com a pessoa errada enquanto isso?
 
Depois, eu percebi que ele fez a escolha certa. Lembrei do caso daquela menina que vivia aos pegas com o meu colega na escola, não se desgrudavam. E agora ela teve que sair da escola porque estava grávida. E o menino também saiu. Que pena, ele ia fazer vestibular pra direito. Tenho certeza que ele ia passar. Mas agora, tem que trabalhar pra pagar “o leitinho das crianças”. Será que isso foi bom pra ele?
 
Bem, estou saindo do cinema um pouco mais confuso do que entrei. Vou ter que fazer aquele negócio de “esperar no Senhor”. Não vai ser fácil, mas acho que vale a pena. É tão legal as pessoas se dando bem na vida, esperando o tempo certo pra fazer as coisas. E aqueles adolescentezinhos esquisitos não sabem o que querem da vida mesmo. Eu sei o que quero... Descobri isso agora.

Felipe Aguiar