"Você não precisa me dizer os meus defeitos. Eu olho no espelho todo dia e os vejo numa profundidade muito maior do que você." (Amy Grant)
Soraya era uma criança tímida. Desde seu nascimento, de um parto longo e complicado, ela carregava em seu corpo marcas e cicatrizes. Ela, por si mesmo, tentava escondê-las, e posso dizer-lhes que apenas algumas pessoas haviam visto. Seu corpo denunciava as marcas do seu passado. Ela sabia de suas limitações físicas. Mas vivia uma vida normal.
Na fase adulta, se deparou com os desafios e os dilemas do relacionamento. No início, tentava se desviar dos olhares, mas depois acabou cedendo e entrando no jogo. Ela era feliz, mas uma coisa a perturbava às vezes: e se alguém visse suas cicatrizes? E se o interesse acabasse? Era, de verdade, o amor capaz de ver beleza no que lembrava tanta dor?
E, por causa disto, Soraya colocou um cadeado no seu coração. Ele foi ficando morno, frio, gelado, inacessível. O que era apenas uma timidez virou uma obsessão pelo encobrimento. Seu rosto não era mais visto, seu corpo não era mais visto. Soraya passou a se esconder de tudo e de todos. O medo de ser vista passou a dominá-la, e tanta riqueza interior foi jogada fora em busca de esconder algo que ninguém notava.
Um plano foi criado. Uma meta de permanecer sozinha para sempre. Era um plano perfeito. Sucesso profissional, trabalhar sozinha, ninguém pra chatear. Enfim, era um plano à prova de tolos... Mas, o plano estava fadado ao fracasso.
Um grupo de pessoas decidiu se aproximar. Eram pessoas legais, super descoladas. Não bebiam, não fumavam, não usavam drogas. Na verdade, eles falavam de um amor cujo prazer e contentamento superava todos os sentimentos causados por estas coisas. Falaram de um amor diferente do que Soraya conhecia. Falaram de uma paz que ia além do que entendiam...
E Soraya foi se abrindo. Como uma flor que desabrocha.
- Soraya, quem se esconde debaixo de tantas roupas pretas e maquiagem?
- Ninguém! Eu sou eu mesma sempre.
- Soraya, pode se abir conosco, do que você tem medo?
- Não sei...
- Nós estamos interessados em quem você é de verdade. Você não vai nos mostrar quem você é?
E, pela primeira vez, Soraya não se escondeu das expectativas externas. E, pela primeira vez, viu a vergonha e o medo sendo expulsos pela aceitação, e pela simples constatação:
- Querida, você tem suas marcas, você tem seus segredos, você tem seus arrependimentos... Mas quem de nós não tem?
Inspirado na música Betty, de Brooke Fraser
Felipe Aguiar
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