Tenho ouvido críticas sobre o desempenho de Kaká na Copa, algumas pessoas dizem que ele é muito focado em sua religião e devia estar mais ligado no futebol.
Lembrei de uma historinha real que ouvi de um amigo de uma amiga, parece telefone sem fio mas ele garante que aconteceu de verdade... Vou tentar reproduzir aqui como ele contou...
Renato era muito bom de bola, vidrado em futebol, craque mesmo. Mas tinha entrado pra uma Igreja, dessas evangélicas bem animadas. Não se sabe ao certo que aconteceu, mas o cara deu uma mudada, sabe?
Sumiu das baladas, andou meio estranho, mas é certo que não estava doente. Parecia até estar melhor de saúde, deu uma corada. Só domingo era dia de treino do nosso time, sempre antes do almoço e justamente nessa hora tinha o tal culto nessa igreja. O time se reuniu e resolveu que como eu era o mais chegado, era a pessoa ideal para resolver a questão. Achei melhor investigar e tentar um acordo. Não sei mas parece que algo também me atraía para aquele lugar.
Pensei assim: eu vou na igreja dele, já que ele vive me convidando mesmo, e na hora certa arrasto ele pro treino.
Cheguei na Igreja e achei que era um lugar bem jeitoso. Um homem muito simpático me cumprimentou e me chamou de irmão. Pensei que devia ser um desses surfistas aposentados , mas veio um senhora e me chamou de irmão também e essa com certeza nunca subira numa prancha. No altar não havia imagens, nem Nossa senhora, nem Jesus, mas havia um telão ligado em um projetor que parecia de última geração. Muito bom pra transmitir um jogo, pensei. Será que era isso? Será que eles transmitem jogos ali e Renato ficou fissurado? Uma vez tinha passado ali em frente e ouvi uma gritaria, será que era torcida, eles assistiam jogos naquele telão?
Logo percebi que não. Uma garota muito linda pegou o microfone e começou a cantar. Acho que ela era famosa, pelo menos entre eles. Tocava com uma banda bem entrosada. Perguntei ao Renato onde vendia o cd dela, mas ele disse que ela não tinha cd gravado não, mas que ela estava aguardando a promessa de um senhor. Deve ser um caça-talentos desses de gravadora! Engraçado que, mesmo sem o cd, todos já sabiam as músicas, cantavam com as mãos levantadas, batiam palmas. Muito esperto esse senhor, a menina tinha mesmo talento.
Então o Pastor veio e passou a tal da sacolinha pra dar dinheiro. Eu estava distraído lembrando das músicas, e nem percebi umas explicações que ele dava, sei lá esse negócio de dar de coração, acho que tinha que ser mais organizado, fazer um carnezinho. Com um telão daquele e música ao vivo com a tal garota, devia cobrar uma entrada, uma mensalidade, sei lá. Mas a igreja era tão jeitosinha, devia estar dando certo. E sabe como é: time que está ganhando não se mexe.
Então veio um outro Pastor e abriu um livro. Eu já sabia que era uma Bíblia. Leu uma folha e começou a explicar, era quase hora do treino e justamente agora todo mundo tinha sentado. Fiquei pensando em como sair dali e ainda por cima levar o Renato, mas acabei me distraindo com as palavras que o pastor dizia. Que palavras bonitas, tinha algumas que eu nunca tinha ouvido, mas dava pra entender a maioria. Me senti muito bem naquele lugar, me deu uma paz, sabe? Tinha uma coisa assim meio no ar, não sei explicar.
Então a garota subiu no palco de novo, mas dessa vez ficou assim no canto e começou a cantar uma música bem lentinha, tipo fim de baile mesmo, ela cantava e o pastor falava junto, ele mandou todo mundo fechar os olhos. Eu fechei também. Ele mandou colocar a mão no coração, eu coloquei também. Aí ele falou que quem quisesse Jesus levanta-se a mão. Claro que eu levantei a mão, né? Quem não quer Jesus? Mas caramba, aconteceu uma coisa sinistra, aquilo era combinado entre eles por que ninguém mais levantou a mão! Eu, de olhos fechados, nem percebi a armação, até que ele falou no microfone:
-Jovem, você que está de mão levantada vem aqui na frente!
Abri os olhos e percebi que era comigo. Que vergonha! Todo mundo estava olhando pra mim, eu não sabia onde enfiar a cara, ele falava “vem” e eu morto de vergonha, “vem” e eu vermelho igual um pimentão, em volta de mim, parecia uma torcida todo mundo, “vai, vai, vai”. Eu fui, né? E foi mais esquisito ainda, não entendi nada, parecia que eu tinha feito um gol de final de campeonato no Maracanã. Todo mundo bateu palma, começou a gritar, me abraçar. Renatinho ajoelhou no chão e ficou com a mão pro alto parecia aquele pessoal do tetra que comemorava gol assim, tá lembrado?
Eles anotaram meu nome, pediram meu endereço, achei grosseria não dar. Me disseram os dias de reunião e eu aproveitei e pedi pra me avisar quando a garota tiver gravado o cd.
Apesar do mico, até que eu gostei da tal igreja. O pior foi dizer ao time pra desistir de Renato. Eu me embolei com umas coisas que o pastor disse, e falei que a gente podia crer que Deus mandava outra pessoa?! Mas aquele lá não volta mais não, duvido que ele deixe de ir a tal igreja pra treinar com a gente.
Eu nunca mais voltei, continuo no time. Mas ainda hoje me lembro daquele dia. Sei lá, às vezes me dá vontade de voltar, parece que um pedaço meu ficou lá. Quando penso naquele dia me dá uma paz, não sei explicar.
Acho que um dia eu volto, volto sim. Ou procuro uma Igreja mais próxima. Está escrito isso no papel que eles me deram, e eu guardei na minha carteira pra dar sorte.
Lenise Freitas
Este texto é muito legal. Toda vez que leio o meu sorriso se abre.
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