Jonathan e Raquel correram apressados para levar a pequena Sarah ao hospital, quando mal tinha terminado o ultimo cântico - LeShaná HaBa’aB’Yerushalaim – (No ano que vem em Jerusalém) que sempre marcava o fim do Seder de Pessach ( Ceia de Páscoa) e reafirmava a confiança na redenção do povo judeu. A febre não havia cedido. Ao contrario, aumentara cada vez mais.
Alguns meses depois, a febre ainda continuava. Uma leucemia feroz tomava conta não só do corpo de Sarah, mas da saúde emocional de toda família. Tudo girava em torno dela, da busca de tratamentos mais avançados, da espera de uma medula compatível que pudesse ser doada.
Certa noite, Rachel estava especialmente exausta, e Jonathan a mandara passar a noite em casa. Como um patriarca, sentia-se na obrigação de ser forte, mas a verdade é que estava completamente devastado. Seus pais haviam sobrevivido ao holocausto, ao horror de Auschwitz. Vieram para o Brasil. Passaram todo tipo de dificuldades e do nada fizeram fortuna. Mas toda a força do puro sangue judeu daquela família parecia sucumbir agora. E Jonathan, impotente diante daquela doença, sofria sentindo-se também um covarde.
Foi quando um homem desconhecido chegou ao hospital. Disse-lhe que estava orando em casa e tivera uma visão. O Senhor Jesus o enviara para orar pela cura de sua filha. Para que ele acreditasse, disse-lhe também que Deus havia lhe revelado que ele perdera seu kipa (boina judaica) naquela manhã, e por isso não fora a sinagoga.
Jonathan assustou-se, pois ninguém sabia deste fato. Mesmo assim, iria lhe dizer que era judeu convicto e não cria nesse Jesus. Mas o cansaço lhe venceu. Não tinha forças para sequer argumentar. E afinal, era mais uma tentativa...
Permitiu que o homem orasse por Sarah. Após a oração, o homem lhe disse então que o poder de Yavé Rafá (Deus que Cura) estava no nome de Yeshua HaMashiach (Jesus, o Messias). Que sua filha acordaria desinchada e em poucos dias receberia alta. Que ela nunca mais teria problema algum no sangue.
Tudo sucedeu exatamente conforme sua palavra. E não só Jonathan, mas toda sua família se converteu ao cristianismo.
Quando uma nova Peshac (Páscoa) se aproximou, Jonathan tentou falar com todos os seus amigos da sinagoga. O número de Gamaliel foi o último número que tentou, na verdade o último de quem ele esperava alguma resposta. Gamaliel nunca fora do seu circulo de amigos íntimos, apenas um membro da sinagoga que chegara à colônia a pouco tempo, preparando-se para ser rabino. No entanto foi o único que lhe atendeu.
-Shalom (A Paz)! Estou ligando para lhe desejar uma boa ceia, afinal é Pessach. E obrigado por me atender.
Gamaliel respondeu com mansidão que era um mitsva (mandamento) amar os irmãos, e que apesar de tudo, ainda o considerava um irmão. Disse-lhe que soubera de tudo que aconteceu a Sarah. Defendia que deviam dar tempo ao tempo, pois se isso fosse da parte de Yavé permaneceria. Caso contrário, Jonathan deveria retornar e observar o Torah (conjunto de leis judaicas) com mais diligência.
Jonathan agradeceu a atenção mais uma vez. Era a primeira Pessach desde sua conversão, e sentia-se ainda confuso com tantas mudanças. Passara a vida guardando o shabat (sábado), rezando pela vinda do Mashiac (Messias), pela reconstrução do terceiro Bet Hamicdash (Templo Sagrado). Mas tudo se fizera novo para ele.
Na Igreja lhe explicaram na que não havia problema em celebrar uma ceia de páscoa em casa, que apenas deveria acrescentar ao sentido da Pessach a lembrança do sacrifício e da ressurreição de Jesus. Sentia falta da comunidade judaica, mas agora experimentava a Shalom (paz) como nunca antes. Começava a perceber que, como aquele homem que nunca mais vira, tinha também o dom de curar em nome de Yeshua , e na Unção do Ruach HaKodesh (Espírito Santo) podia conhecer fatos passados e saber de outros que ainda aconteceriam.
Sentia um desejo forte de ir para a terra de seus antepassados, à sua terra, e unir-se a uma comunidade de judeus messiânicos. Assim como os antigos neviim (profetas), desejava anunciar a inauguração da B’rit Hadashaá (a Nova Aliança). Tinha um chamado missionário, como explicaram a ele.
Ao ver Sarah brincando, sem nenhum sinal da doença, seu coração enchia-se de alegria e gratidão. Decidiu que este ano, além de afikomans (doces judaicos próprios da Páscoa), ela e Bejamim, seu filho mais velho, receberiam pela primeira vez ovos de chocolate.
Sim, ele iria testemunhar aos irmãos judeus tudo que lhe acontecera. Anunciar que da raiz de Davi, já chegara redenção. Que o descendente de Abraão fizera bendita todas as famílias da terra. Que Yeshua salva e cura. Sabia que não seria fácil, talvez por isso recebera dons tão extraordinários, mas acima de tudo, confiava em Yeshua.
Estava decidido e contava com apoio de Rachel. Esta seria sua última Pessach no Brasil.
LeShaná HaBa’aB’Yerushalaim- No ano que vem em Jerusalém.
Lenise Freitas
LeShaná HaBa’aB’Yerushalaim - No que vem em Jerusalém, milenar canto judaico que reafirma a confiança no restabelecimento do Reino de Israel e do Templo de Jerusalém; Seder- ceia ; Pessach- Páscoa; Kipa- pequeno chapéu em forma de circunferência usado por judeus como sinal de temor a Deus; Yavé Rafa- Cura de Deus; Yeshua HaMashiach- Jesus, o Messias; Shalom – Paz; Mitzvah – mandamento; Torah- Leis sagradas do judaísmo; Shabat- sábado; Bet Hamicdash- templo judeu; Ruach HaKodesh- Espírito Santo de Deus; Neviim – profetas; B’rit Hadashaá- Nova Aliança ; Afikomans- doces destribuídos na Páscoa judaica.
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