“Esse ano vai ser diferente...”
Assim pensava Joaquim, arrumando sua mala. Um ano depois de uma experiência que marcou sua vida pra sempre. Arrumava suas roupas, seus pertences em uma mala pequena e simples. Seriam quatro dias longe de sua casa, mas perto de seus amigos. Todos estavam juntos, e passariam os quatro dias conversando, trocando experiências e se divertindo.
Joaquim se lembrava bem de como estava há um ano atrás. Arruinado na vida financeira, na vida emocional e na vida espiritual, Joaquim havia se jogado de vez na folia do carnaval. Sua vida não lhe oferecia outras oportunidades de viver momentos de alegria... Sua família estava destruída, havia perdido seu emprego, estava de mal com Deus. Nada daquilo podia lhe satisfazer mais, e então ele buscou na última fonte que lhe sobrara. A ‘alegria’ do carnaval no Rio de Janeiro.
Mas, já no segundo dia, Joaquim não conseguia mais aguentar. Não parou um só minuto de beber, e os níveis de álcool no seu sangue atingiram números altíssimos. De repente, sua razão se perdeu, e junto com ela foi a sua consciência. Não apenas a consciência que o fazia raciocinar, mas a consciência de quem ele era. Joaquim sentia-se um nada. Não via sentido para continuar vivendo. “Se for pra viver desse jeito, prefiro morrer de tanto beber. Pelo menos vou morrer alegre...”, ele dizia. E continuava bebendo, até que desmaiou.
Durante os dias em que esteve em coma, Joaquim teve tempo para refletir e repensar sua vida. Lembrou-se das falas de sua mãe, quando ainda estava viva. Lembrava de que, quando menino, sua mãe o fazia orar todas as noites antes de dormir. Naquela época ele achava tudo muito chato, mas agora bem que ele sentia falta. Num instante, quis voltar àquela época. Quis abraçar de novo sua mãe e dizer-lhe que estava arrependido. Dizer que queria voltar a fazer essas coisas, mas não sabia como...
Quando acordou, a primeira coisa que viu no hospital foi uma Bíblia guardada na gaveta. Abriu na primeira página que lhe apareceu, e leu em voz alta: “Se, com a tua boca, o confessares como Senhor e, em teu coração, creres que Ele ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” Entendeu na hora o que deveria fazer... Depois, procurou um telefone e ligou pra sua mulher. O casamento destruído foi o tema da ligação. Desculpas sinceras, palavras amigáveis, não mais brigas e discussões.
Joaquim terminou de arrumar sua mala. Sua esposa e seu filho já estavam esperando. Afinal, o ônibus saía às oito da manhã. O lugar era lindo. Atrações para todas as idades, desde seu filho até o seu pai, que também estava lá. Durante uma das reuniões, um amigo colocou a mão no seu ombro e lhe disse: “Você se lembra de um ano atrás, não lembra? Mas eu quero que você se veja daqui a um ano”...
Um ano depois, Joaquim não precisa arrumar malas. Vai ficar perto de casa mesmo. Seus amigos decidiram não ir a um sítio esse ano. Joaquim e seus amigos iam compartilhar suas experiências às pessoas que não viajavam no carnaval, os seus amigos de dois anos atrás. Quem sabe entre eles não exista algum outro Joaquim...
Felipe Aguiar